Sérgio Buarque de Holanda foi um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos. Autor de uma obra aclamada e controversa, tornou-se referência obrigatória no pensamento social brasileiro e na historiografia nacional. Uma entidade intelectual.
Aproveitando o título do célebre livro, Raízes do Brasil, o diretor Nelson Pereira dos Santos lançou, em 2003, “uma cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda”; realizando, em forma de documentário, uma leitura do próprio Brasil a partir da história de vida do professor.
Numa primeira parte, o documentário aborda a vidinha comum da entidade intelectual que passava dias pesquisando e lendo em seu gabinete, incrivelmente bagunçado, com milhares de livros e papéis espalhados. Horas e horas enfurnado em cadernos e anotações. Mostra também a relação de Sérgio Buarque de Holanda com a família e amigos e com a intelectualidade boêmia de sua época. Chico Buarque de Holanda, o filho mais ilustre, por exemplo, aparece em depoimento e música ao lado de Vinicius de Moraes, Tom Jobim e outros poetas e vagabundos bossa-nova.
Entre o gabinete e a varanda, ou no quintal, o professor recebia os amigos, lia poesias, discutia política e filosofia, cantava, fumava, bebia e, às vezes, recebia um de seus alunos para orientação de teses e monografias. Reza a lenda que primeiro bebia e cantava, depois orientava os alunos. Segundo depoimento de uma das filhas, também fumava maconha, “para espanto de alunos e colegas de academia”.
Num segundo momento, inspirado em um depoimento autobiográfico, o filme narra a trajetória acadêmica e profissional de Sérgio Buarque de Holanda. Nesta parte, a vida do autor se confunde com a história contemporânea: desde os tempos de Getúlio Vargas à abertura política nos anos 80. Fez parte do movimento modernista brasileiro nos anos 20-30 (amigo de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira), viveu a ascensão do nazismo quando morava na Alemanha, morou na Itália do pós-guerra, pediu a aposentadoria na universidade quando seus companheiros foram obrigados a se aposentar pela ditadura militar, ajudou a fundar o PT no início dos anos 80.
Também nessa parte são discutidos os temas de suas obras e a importância delas para o pensamento histórico e social brasileiro. Os depoimentos dos amigos agora são intercalados com os de professores, estudiosos, especialistas em civilização brasileira e alguns respeitosos desafetos acadêmicos e intelectuais. O professor Antônio Cândido, por exemplo, dá um saudoso depoimento descrevendo o amigo como uma das mais brilhantes cabeças do pensamento brasileiro.
Compensa:
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 1936
Raízes do Brasil: uma cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda
de Nelson Pereira dos Santos, 2003.