Pílulas de Literatura: a correria do animal social

Sobre a correria nossa de cada dia...

Subitamente alguém começou a correr. Talvez ele simplesmente se tivesse lembrado, de repente, de um compromisso para se encontrar com a esposa, para cujo encontro estava agora muito atrasado. Qualquer que fosse a razão, ele correu para leste, na Broad Street. Alguém mais começou a correr, talvez um jornaleiro que se sentisse alegre. Outro homem, um austero empresário, começou a correr também. Em dez minutos todo mundo em High Street, da estação ferroviária até o Palácio da Justiça, estava correndo. Um forte murmúrio cristalizou-se gradualmente na palavra “represa”. “A represa rompeu-se!”. O medo foi transformado em palavras por uma velhinha no bonde ou por um guarda de trânsito, ou por um garoto: ninguém sabia quem, e isso realmente pouco importava. Duzentas pessoas estavam em fuga. “Para leste!”, era o grito que se ouvia: leste, longe do rio, leste para a segurança. “Para leste! Para leste!…”. …Uma mulher com um olhar feroz e um queixo determinado passou por mim, correndo para o meio da rua. Eu ainda não estava certo do que estava acontecendo, apesar dos gritos. Corri atrás da mulher com algum esforço, pois embora ela tivesse bem mais de 50 anos, corria muito bem e parecia estar em excelente forma. “Que é que há?”, perguntei. Ela deu-me um olhar rápido, voltou os olhos novamente para frente, parou por um instante e disse: “Não pergunte a mim, pergunte a Deus!”.

ARONSON, Elliott. O animal social: introdução ao estudo do comportamento humano. 1932. In: “From day the dam broke”, em My life and hard times. New York: Harper, 1933, p. 41, 47 (Impresso originalmente no The New Yorker).

 

Imagem: Pablo Picasso, Deux femmes courant sur la plage, 1922.

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