O Anticristo de Lars Von Trier

O filme põe em discussão inúmeros temas essenciais: o luto, a dor, a culpa, o casamento, a fronteira entre sanidade e loucura etc. Tudo isso guiado por diálogos viscerais.

Lars Von Trier já afirmou que Anticristo é seu melhor filme. É de conhecimento geral que tal título é recorrente na história do pensamento ocidental. Contudo, Lars fez questão de enfatizar que deve o nome ao livro homônimo de Nietzsche. Faz sentido.

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O enredo pode ser assim resumido: depois da morte do único filho, um casal se muda para uma floresta (não por acaso chamada Éden), para uma cabana isolada. Mas o filme está longe de ser só isso. O primeiro aspecto a ser ressaltado é a beleza. O “prólogo” e o “epílogo”, em preto e branco e câmera lenta, são sublimes. 

É bem verdade que a película é permeada por violência física e psicológica, além de algumas cenas de sexo explícito. Mas o que poderia soar como sensacionalismo, nas mãos de Lars ganha uma profundidade e uma beleza magistral.

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O filme põe em discussão inúmeros temas essenciais: o luto, a dor, a culpa, o casamento, a fronteira entre sanidade e loucura etc. Tudo isso guiado por diálogos viscerais.

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A mulher, com vários ataques de desespero devido à dor pela perda do filho, é “ajudada” pelo marido, que, para salvá-la, usa o que conhece: a psicologia. Ele insiste que é natural sofrer e que transformar tudo em depressão (como faz grande parte da medicina contemporânea) é um absurdo. 

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Além do desespero, a mulher sente culpa, muita culpa, já que quando o filho caiu pela janela, ela não estava cuidando dele, mas transando com o marido. Ela que pesquisava as torturas femininas ao longo da história, passa a ver a mulher como um ser essencialmente mal. Daí emerge uma série de “fatos freudianos” que culminam na cena mais polêmica do filme: a automutilação sexual da mulher. 

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Eis apenas um aperitivo pobre do que é essa obra de arte.  

Deixo aqui um conselho: se você for assistir, dispa-se da moralidade vigente.

Matheus Arcaro nasceu em Ribeirão Preto, onde vive atualmente. É mestrando em filosofia contemporânea pela Unicamp. Pós-graduado em História da Arte. Graduado em Filosofia e também em Comunicação Social. É professor, artista plástico, palestrante e escritor, autor do romance O lado imóvel do tempo (Ed. Patuá, 2016), os livros de contos Violeta velha e outras flores (Ed. Patuá, 2014) e Amortalha (Ed. Patuá, 2017) e do recém-lançado de poesia “um clitóris encostado na eternidade”. 

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